sexta-feira, 16 de abril de 2010


Tem o cristão parte na política?

por C. H. Mackintosh , em resposta a uma carta

Em relação à sua pergunta: «Que ensina a Palavra de Deus a respeito da posição de um cristão quando é convocado a votar para a eleição dum membro do parlamento?»

Talvez se alarme quando lhe dissermos que a sua pergunta toca os fundamentos principais do cristianismo. Perguntamos, querido amigo, a que mundo pertence o cristão? Pertence a este mundo ou ao mundo de cima? Está a sua cidadania na Terra ou no Céu? Ele está “morto para o mundo”, ou está “vivo nele”? Se ele fosse um cidadão deste mundo, se o seu lugar, a sua porção e o seu lar estivessem aqui em baixo, então, certamente, jamais seria suficiente a sua comprometida actividade nos “assuntos deste mundo.”
Se ele fosse um cidadão deste mundo, de facto, deveria votar para a eleição dos vereadores do município ou para os membros do parlamento ou para a eleição de um presidente da república; deveria fazer todos os esforços possíveis para conseguir pôr o homem correcto no lugar adequado, quer fosse no conselho municipal, ou na câmara dos legisladores, ou no poder executivo. Deveria dedicar todos os seus esforços e meios ao seu alcance para melhorar e regular o mundo. Se, numa palavra, ele fosse um cidadão deste mundo, deveria, com a melhor das suas capacidades, desempenhar as funções pertencentes a tal posição.

Mas, por outro lado, se for certo que o cristão está “morto” com respeito a este mundo; se a sua “cidadania estiver nos céus”, se o seu lugar, a sua porção e o seu lar estiverem no alto; se ele for só um “estrangeiro e peregrino” aqui em baixo, então segue-se que ele não é chamado a comprometer-se de maneira alguma com a política deste mundo, mas a seguir o seu caminho peregrino, “submetendo-se pacientemente a toda instituição humana por causa do Senhor”, prestando obediência às “autoridades” estabelecidas por Deus e orando “por todos os que estão em eminência” a fim de serem guardados e estarem bem em todas as coisas.

Mas, pergunta pontualmente: «o que ensina a Palavra de Deus» sobre este ponto?, uma pergunta extremamente importante. “O que, pois, diz a Escritura”? (Rm 4:3). Uma passagem, ou duas, serão suficientes. Ouçamos o que diz o Senhor quando se dirige ao Pai em referência aos Seus que “estavam no mundo” (Jo 13:1): “Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como Eu não sou do mundo. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. Não são do mundo, como Eu do mundo não sou.” (Jo 17:14-16 ACF) Ouçamos também ao inspirado Apóstolo sobre este mesmo tema: “Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós, pelos que assim andam. Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da Cruz de Cristo, Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas. Mas a nossa cidade (πολιτευμα) está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo.” (Fl 3:17-20 ACF) E de novo lemos também na epístola aos Colossenses: “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra; Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória.” (Cl 3:1-4 ACF)


Há quem diga, não obstante, que as Escrituras citadas já não se aplicam hoje; que “o mundo” de João 17, não é o mundo do nosso presente século; que o de então era um mundo pagão, enquanto que o de hoje em dia, é um mundo cristão. A todos os que assumem esta posição, não temos nada para lhes dizer. Se o ensino do Novo Testamento esteve planeado só para uma época passada; se tão somente for efectivo para as coisas que já passaram, e não tem aplicação para as coisas que são, então, certamente, não podemos saber onde estamos parados, nem a que lugar ir para achar um guia ou uma autoridade. Mas, graças a Deus, contamos com um guia divino e, portanto, plenamente suficiente para todas as épocas, para todos os tempos e para todas as condições. Se, pois, temos de ser guiados unicamente pela Escritura, esta em parte alguma nos autoriza a que nos comprometamos com a política deste mundo. A Cruz de Cristo tem quebrado o laço que nos ligava a este mundo. Estamos identificados com Ele. Ele é o nosso Modelo. Se Cristo estivesse aqui, acharia o Seu lugar fora dos limites deste mundo. Não veríamos Cristo na sessão do conselho municipal, no tribunal, na câmara legislativa ou com a espada na Sua mão. De repente, Ele empunhará o ceptro, desembainhará a espada e tomará as rédeas do governo nas Suas mãos (Queira Deus que esse dia chegue rapidamente!) Mas agora Ele é rechaçado, e nós somos chamados a participar do Seu rechaço. Como cristãos, o nosso caminho neste mundo é a obediência ou o sofrimento. Somos chamados a orar “por todos os que estão em eminência” (1Tm 2:1-2), mas não a estarmos no lugar da autoridade, nós mesmos. Não há uma só linha das Escrituras que me guie a votar nas eleições, ou igualmente a ser membro político ou magistrado. Por esta razão, se eu actuasse debaixo destas considerações, está-lo-ia fazendo, sem uma única palavra de direcção do meu Senhor; e pior ainda, estaria actuando de uma maneira totalmente oposta a Ele, e em directa oposição ao espírito e ao ensino do Novo Testamento.

Queira Deus fazer-nos mais fiéis a Cristo! Que sejamos libertados mais completamente, em coração e espírito, deste “presente mundo mau”, assim como também capacitados para prosseguir, com santa determinação, o nosso caminho peregrino ao longo das areias do deserto deste mundo! Sabemos perfeitamente que o que temos escrito sobre este tema resultará desagradável e impopular, mas isto não nos terá de impedir que de falemos a verdade, como tampouco nos impedirá que actuemos conforme à verdade.

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Tradução de Carlos António da Rocha

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